quarta-feira, setembro 16

NAVIO NEGREIRO

(Gladir Cabral)

Cruzando o tempo daqui se vê

Muito negreiro vendendo o quê

Traz escondido em seu mau querer

Áfricos, tráficos, vida e ser


Varando as ondas escuto a dor

Feito um lamento: ai meu Senhor!

Onde a razão trata do furor

Canta a vingança da clara cor


Por todo o mar há liberdade

Há muito dom de verdade

Cada lugar do oceano

Faz onda como deseja


Todo escravo é desejo afim

De espaço aberto, de além de si

Vive na espera de ser feliz

Na volta terra de seu país


Toda corrente é quimera só

De quem pretende guarda a dor

A força, viva de um ser menor

A força, vida de um ser melhor


Por todo o mar há liberdade

há muito dom de verdade

Cada lugar do oceano

Faz onda como deseja


Todo negreiro é navio mercê

De muitas ondas, de outro querer

Quem prende alguém a qualquer dever

Torna-se escravo até sem saber


Quem é mais livre: corrente ou pé?

Mordaço, voz, sombra ou luz até

Eis o silêncio a resposta é:

Livre é quem vive de fé em fé


Originalmente publicado no meu blog: GRAÇA PLENA

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